amor em contra-mão

Arquivo de sentimentos. Palavras em bruto, sem edição. secondhandemotion@gmail.com

segunda-feira, abril 28, 2014

Apanhada na curva

Não havia factor surpresa. Ao km 18,4, conforme anunciado, a estrada guinava para os 35 anos. Mas como acontecia com as curvas pronunciadas, só quando lá cheguei é que vislumbrei a paisagem, surpreendentemente diferente daquela que vira até ali.
O fim. O caminho reto e despido à minha frente impunha outro tipo de condução. Não se tratava de "baixar os padrōezinhos", ainda assim era uma visão triste. Um caminhar para o sítio que me confrontava com aquilo em que não queria acreditar: o amor dos homens é inferior ao de nós, mulheres. Os sinais estavam todos lá, claramente audíveis numa estação que entretanto o auto-rádio emprestou às conclusões de estudos científicos vários: os homens que ganham menos que a sua companheira têm mais tendência a traí-la; um homem pode trair a companheira, mesmo que esteja satisfeito sexualmente; homens que são mais atraentes que as esposas são menos motivados a ajudá-las ou a agradá-las....
Avisem a Junta Autónoma de Estradas que ao km 18,4 da curva 35 morreu a esperança de um homem especial por quem esperar. Ao invés, avistei um sinal redondo cortado a vermelho com uma versão simplificada desse espécime. Fora de circulação. A estrada continua sem ele. Nunca existiu aliás. À frente, as derradeiras áreas de serviço, já em escasso número, onde abastecer para a vida. Com provisões opcionais e valiosas para quem viaja num carro vazio, a um preço que nunca antes aceitaria pagar. Maldita curva. Cada uma destas paragens forçadas está envolta em nevoeiro, é um desvio a um itinerário inicial que de si já ia na quarta versão. Novo plano. Seguir todos os sinais. Descobrir o seu propósito sem o tentar adivinhar antecipadamente. Pela primeira vez, ler uma placa antes inconcebível. Que me manda parar para ser mãe solteira se a oportunidade se apresentar.